Desde o ano passado, o ex-presidente Luiz Inácio Lula usou de infinita paciência e gastou muita saliva para evitar que o PT entrasse em rota de colisão com o governador Eduardo Campos. Não era o seu desejo perder Campos como aliado, inclusive porque considerava que o governador pernambucano poderia ser uma boa opção de candidatura à Presidência para 2018, quando Dilma deixaria o seu segundo mandato e o PT completaria 16 anos de governo. O neto de Miguel Arrais seria uma opção de candidatura porque é nordestino, tem carisma, foi um bom aliado nos seus dois mandatos e mostrou capacidade administrativa no governo do seu Estado. O PT, depois de mais um mandato de Dilma, precisaria também de um tempo de afastamento do Palácio do Planalto para se rearticular internamente. Há muito tempo responsável pela Presidência, o partido foi obrigado a colocar em segundo plano a vida partidária, a formação de quadros e a definição programática. Internamente, isso fortaleceu as burocracias em detrimento da militância. Para o ex-presidente, 2018 seria um bom momento para o PT sair de cena, e seria melhor que isso acontecesse pela vitória de um aliado, e não pela derrota do partido para as forças oposicionistas.
Durante o processo eleitoral para a escolha de prefeitos e vereadores, Lula usou de toda a sua influência no partido para impedir uma cisão com o PSB, na definição do candidato a prefeito de Recife. O PT de Recife não foi inteligente ao preterir o prefeito João Costa (PT) na disputa, mas essa escolha foi apenas o pretexto que Campos usou para lançar o seu próprio candidato. Nada que o PT fez foi à revelia do governador porque Lula garantiu pessoalmente que isso não acontecesse. E o ex-presidente, até o último momento, não acreditou que fossem sérios os boatos de que Campos lançaria a sua própria candidatura à Presidência.
Quando o governador de Pernambuco explicitou sua intenção de ser candidato contra Dilma, queimou a largada para a corrida presidencial de 2018 e não se viabilizou como uma segunda via para 2014. Naquele momento, as pesquisas internas do PT já deixavam claro que Campos apostara muito alto: Dilma havia reunido, como candidata à reeleição, a aprovação de eleitores incondicionais de Lula e do PT e havia construído um próprio patrimônio político em função de sua firmeza, ao demitir sucessivos ministros devido a denúncias de corrupção. As pesquisas de opinião divulgadas no último mês mostram o que PT já sabia: a presidenta Dilma desfruta uma situação de conforto muito maior do que a de Fernando Henrique Cardoso em 1997, um ano antes da disputa pelo seu segundo mandato presidencial, que venceu já no primeiro turno; e de mais conforto em relação à Lula em 2005, um ano antes do processo eleitoral.
Campos demorou a perceber que, se são remotas as chances da oposição contra Dilma, é igualmente difícil imaginar que um candidato possa dividir votos que já são dela no campo progressista. Em 2014 se dará a quinta eleição em que vale a regra da reeleição. Essa é uma lei nova para a tradição eleitoral brasileira, mas o eleitor já mostrou que, na vigência dela, vale a máxima de que “time que está ganhando, não se mexe”.
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Fonte: Maria Inês Nassif /Do JornalGGN