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domingo, 2 de fevereiro de 2014

Quatro anos após morte de Alcides, estudantes de origem humilde dão exemplo

Quando foi aprovado no vestibular da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em 2007, o estudante Alcides do Nascimento Lins, 22 anos, declarou: “A felicidade se conquista aos poucos. Ela é adquirida em cada pedra tirada do caminho”. Recifense de origem pobre, aluno de escola pública, ele dava um novo sentido à vida. A luta transformou-se na realização do sonho da família. Prestes a se formar, porém, Alcides perdeu a batalha para a violência urbana. Na próxima quarta-feira, completa quatro anos o seu assassinato, que chocou o país. Mas o exemplo de perseverança, amplamente reconhecido, continua inspirando outros estudantes.
Futuro como doutor
Jonas da Silva trocou a enxada pelo estetoscópio. Foto: Paulo Paiva/DP/D.A Press
Jonas da Silva trocou a enxada pelo estetoscópio. Foto: Paulo Paiva/DP/D.A Press
Aos 15 anos, Jonas Lopes da Silva trocou o sol, a enxada e a cana-de-açúcar por uma mesa, lápis e livros. Decisão difícil, pois a renda do trabalho era necessária para ajudar nas despesas da família. O apoio dos pais, que tinham outros seis filhos para sustentar, foi fundamental.
Morador de Joaquim Nabuco, a 95km do Recife, não tinha dinheiro para os estudos. Mas não desistiu de lutar pelo sonho de ser médico. Em 2006, levou ponto de corte. Em 2007, passou para agente censitário municipal no concurso do IBGE. Com o dinheiro que juntou por seis meses, viajou para Jaboatão dos Guararapes, onde passou a viver com uma irmã, e se matriculou num curso pré-vestibular. Eram mais de dez horas de estudos diários. Na quarta tentativa, conquistou seu lugar  na Universidade de Pernambuco (UPE), em 2009. “Não achava que teria chances, porque não tinha dinheiro e era do interior. O exemplo de humildade de Alcides me ajudou”, disse Jonas, que está prestes a cursar o oitavo período de medicina e pretende se especializar em cardiologia.
Cinco anos de luta
Bruno Gustavo passou em medicina na UFPE e na UPE. Foto: Nando Chiappetta/DP/ D. A Press
Bruno Gustavo passou em medicina na UFPE e na
UPE.Foto: Nando Chiappetta/DP/ D. A Press
“Tinha tudo para dar errado, mas busquei outro caminho. Hoje sou a pessoa mais feliz do mundo.” As palavras são de Bruno Gustavo da Silva, aprovado nos vestibulares de medicina da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e da Universidade de Pernambuco (UPE). Foram cinco tentativas até alcançar o principal objetivo. Nem diante de tanta dificuldade, baixou a cabeça. Passou fome, morou num barraco com a mãe e três irmãos, mas não desistiu. E o esforço venceu a adversidade. Morador da comunidade de Roda de Fogo, nos Torrões, será o primeiro da família a ingressar na universidade.  Até os 16 anos, os livros eram trocados pelo trabalho. Sem isso, não teria o que comer. Somente aos 22, decidiu voltar a estudar. Fez curso técnico em administração e começou a estagiar. Mas ainda não se sentia realizado. Foi quando, novamente com apoio da mãe, procurou bolsas de estudos em cursos pré-vestibulares. “Cinco anos de dedicação, sem dinheiro algum. Teve dia que cheguei a juntar um real para comprar feijão para almoçar. Valeu a pena”, comemorou.Nova vida para Luiza
Orgulhosa, Maria Luiza carrega o neto Heitor nos braços. Foto: Bernardo Dantas/ DP/D.A Press
Orgulhosa, Maria Luiza carrega o neto Heitor nos braços. Foto: Bernardo Dantas/ DP/D.A Press
Quem não se lembra da imagem da mãe de Alcides, a ex-catadora de lixo Maria Luiza do Nascimento, comemorando a aprovação do filho no vestibular. Mais ainda: celebrando o que parecia impossível. “Ele será doutor”, sentenciava. Faltou muito pouco para Alcides erguer o diploma com orgulho. Na noite de 5 de fevereiro de 2010, o estudante se debruçava sob os livros foi assasinado covardemente, na porta de casa.
O tempo passou, mas as marcas permanecem. “A cabeça de mãe nunca esquece”, resumiu Maria Luiza, que deixou a Vila Santa Luzia, na Torre, desde a perda do filho. Desde 2013, ela vive com a filha Andréa numa casa doada pelo governo do estado. Andrezza e Ana Paula, as outras duas irmãs, casaram e vivem em outras residências. Esta última teve um filho, chamado Heitor. “Realizei o sonho de ser avó. Ele é tão inteligente”.
O exemplo de Alcides também contagiou as irmãs. Todas estão na universidade. Ana Paula faz farmácia na UFPE. Andrezza, publicidade. Andréa, administração. Ambas na Católica.(Diário de Pernambuco)

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