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domingo, 27 de abril de 2014

A reação dos pais de estrelas pornô ao descobrirem o que elas fazem


Se a escolha da profissão é difícil para alguns, imagine revelar para os pais qual é a sua atividade profissional quando se é um ator de filmes pornô. Não é tarefa fácil. O repórter Dylan Matthews, do site “Vox”, ouviu celebridades da indústria pornográfica sobre essa experiência e descobriu reações inesperadas dos pais e amigos dessas estrelas do entretenimento adulto. Listamos os melhores comentários. Confira:
Jessica Drake, atriz pornô vencedora de nove AVN Awards, o “oscar da indústria pornô”. ”Eu nunca fui muito próxima da minha mãe e ela usou isso a seu favor. Ela contou sobre o meu trabalho, da pior maneira possível, para o meu pai. Minha mãe enviou fotos minhas fazendo sexo para ele. Eu não sabia disso até eu tentar conversar com ele para contar o que eu fazia. Ele não quis discutir particularidades do meu trabalho (por razões óbvias), nem eu, claro. No fim, ele me disse que desde que eu estivesse feliz e segura fazendo o que eu fazia, ele me amaria e seria compreensivo. Meu irmão mais novo nunca teve problema com o meu trabalho. Mas, por outro lado, eu perdi amigos. E eu percebi que a reação deles dizia mais sobre quem eles eram do que sobre quem eu sou. Outras amizades continuaram e eu também fiz amigos na indústria pornô.”

Buck Angel, ator pornô transexual: ”Quando eu comecei a trabalhar como ator pornô contei para alguns amigos mais próximos, mas não disse imediatamente para minha família por conta do estigma em torno da indústria pornográfica. Eu não sabia como eles iriam reagir. Eu só contei para os meus pais quando comecei a ficar famoso. Eu não queria que eles se surpreendessem ao me ver em algum programa de TV ou mesmo em alguma matéria de jornal. Acho que isso seria muito desrespeitoso. E, por incrível que pareça eles disseram: ‘Se essa é a escolha que você fez para a sua vida, se isso é legal e você acha que vai te fazer feliz, então tudo bem’. Eu fiquei em choque com a reação deles. É interessante porque meus pais foram mais compreensivos sobre eu ser um homem transexual do que eu ser uma mulher gay. Isso diz muito, inclusive sobre a sociedade e sobre gêneros.”

Joanna Angel, produtora, diretora e atriz pornô. ”Eu nunca quis privacidade. Quando fiz a minha primeira entrevista para um filme o diretor e o produtor foram muito sinceros comigo e disseram: ‘Você sabe que todo mundo que você já conheceu na vida verá isso, né?’. Joanna é meu nome de verdade, então eu contei para os meus pais antes que ele ‘corresse o mundo’. Eu pensei que seria melhor se eles ouvissem isso de mim do que de outra pessoa. Meus pais são religiosos. Quando eu era adolescente, demorei para contar que tinha feito uma tatuagem e colocado piercing. Foi muito diferente contar para eles que eu era uma atriz pornô, principalmente porque eu estava terminando a faculdade e já não dependia mais deles. Eu estava apenas informando a eles sobre uma decisão minha e não pedindo algo. Minha mãe ficou triste por um tempo e achou que a culpa era dela, que ela tinha feito algo errado. Ela pensava que alguém estava me forçando a fazer isso, acho que ela se sentiria melhor se fosse assim. Minha família é muito unida e valoriza muito os valores familiares. Eu sabia que a partir daquele momento nunca mais poderia pedir dinheiro para os meus pais. Na faculdade, as pessoas me perguntavam sobre coisas sobre os filmes que eu sequer sabia responder. Eu não estava acostumada a ser o centro das atenções. Nos fins de semana, quando eu voltava para a casa dos meus pais eu me sentia segura. A gente não falava sobre o meu trabalho e eu podia ser apenas a ‘filhinha da mamãe’.”

Shy Love, atriz pornô, fundadora da consultoria Money, Love Sucess e escritora. ”Quando eu tinha 22 anos eu era completamente diferente das outras garotas de 22. Eu trabalhava em uma empresa que tinha ações na bolsa de valores de Nasdaq. Eu tinha dinheiro, mas estava completamente entediada. Não queria seguir o padrão: faculdade, casamento, filhos. Fui abordada por um agente da Playboy em um shopping ou na rua, não me lembro ao certo. Naquela época eu já tinha dois diplomas, um de bacharel e outro de tecnólogo. Resolvi aceitar a proposta da revista e acabei sendo vista também por produtores de filmes. Minha mãe descobriu porque eu fui contratada pela Hustler (revista masculina americana) e eles me colocaram em um anúncio enorme de um cassino. Eu não diria que a minha mãe não sabera do que eu fazia, até que Hustler me colocou na capa. Daí eu pensei: “Bem, é mais do que eu disse a ela”. Mas a minha mãe não foi contra. Ela pensava assim ‘Você já foi para a faculdade, você é letrada e bem educada. Este não era seu o único caminho, mas se é isso o que você quer fazer, eu quero que você esteja segura e protegida’. Ela estava mais preocupada comigo e com minha segurança do que qualquer outra coisa. Foi completamente diferente do meu pai. Eu sou judia, mas meu pai se converteu cristão, então ele me dizia coisas como: “Deus nunca vai te perdoar pelas coisas que você tem feito”. E a minha resposta era: ‘Você tem feito coisas muito piores na sua vida. Pelo menos eu não estou atrapalhando a vida de ninguém. Só porque você se converteu não significa que você pode julgar as pessoas’.”

Michael Lucas, ator pornô e fundador da Lucas Entertainment, uma das maiores companhias de entreterimento gay do mundo. ”Eu nasci na Rússia, depois fui para a Europa e em 1997 fui para os Estados Unidos, onde abri minha empresa. Quando eu revelei para os meus pais o que eu fazia não foi bem como contar uma ‘grande novidade’. Eu disse para a minha mãe: ‘Você sabe que eu sempre quis trabalhar em frente a uma câmera, mas Hollywood nunca me chamou. Então eu decidi trabalhar no mercado erótico’. Ela disse: ‘Inclusive pornô?’. E eu disse: ‘Sim, eu faço pornô’. E foi isso. Com o meu pai eu conversei sobre o negócio em si, mas nunca sobre a performance, os atores e os filmes, apenas sobre a parte gerencial. Eles são pessoas de mente aberta, tanto que já vieram ao escritório da empresa. Eles sempre foram muito educados e nunca foram religiosos, acho que isso ajudou muito. Poderia ser pior, porque nenhum pai quer que o seu filho seja gay. Mas uma vez que você tem um filho gay, acho que é preciso superar. Eu fiz faculdade de Direito e sei que eles prefeririam que eu fosse advogado. Mas eles entenderam as minhas circunstâncias, eu sai da Rússia e não tinha dinheiro para estudar, então, eu precisava trabalhar.”

Stoya, atriz pornô e escritora freelance dos jornais ”The Guardian” e ”New York Times”. ”Eu comecei fazendo apenas fotos nuas e quando ingressei nos filmes pornôs foi algo compreensível para os meus amigos e conhecidos. Os meus pais tiveram reações diferentes, mas no fim eles disseram: “Você é nossa filha, nós te amamos. Se você optou por esse caminho deve saber das implicações dele. Desde que você não esteja usando drogas e nem seja forçada a fazer nada, então, tudo bem”. Minha mãe ficou um pouco infeliz porque ela tinha um esteriotipo de feminilidade. Quando eu contei para o meu pai ele ficou bravo e disse que eu tinha arruinado o pornô para ele. Eu contei isso para o “Huffington Post” e ele me advertiu: “não é todo mundo que escolhe colocar a vida em público”. A partir daí, eu tive que aprender a ser mais cuidadosa com o que falo. Quando contei para a minha avó foi interessante. Ela se chama Stojadinović e assinava Stoya nas aulas de artes da faculdade. Eu adotei o apelido como nome artístico e quando comecei a dar entrevistas para grandes jornais, como o ”Wall Street Journal”, fiquei preocupada com a possibilidade dela descobrir o que eu fazia, daí eu liguei para ela. Fiz uma referência à Bettie Page, mas expliquei que eu fazia uma versão moderna, na qual as pessoas fazem sexo em cena. Ela perguntou se eu gostava do que eu fazia, eu disse que sim. Ela disse, okay. Só aí eu contei que estava usando o nome dela. A resposta dela me surpreendeu: “Eu só espero que ninguém lá do asilo se confunda e queira colocar meus pés atrás da minha cabeça, eu não tenho mais essa elasticidade.”

Farrell Timlake, ator pornô aposentado e dono da Homegrown Video, a primeira produtora especializada na comercialização de vídeos pornôs amadores. ”Quando eu contei para a minha mãe, meu pai já tinha morrido. Ela tinha comentado que um vizinho havia dito a ela que me vira na televisão em um quarto de hotel. Eu sabia bem o que aquilo significava. Esperei 24 horas para preparar o discurso. Finalmente, quando tomei coragem, ainda com as mãos trêmulas, liguei para ela e disse: ‘Mãe, preciso te contar algumas coisas. Eu faço filme pornô, acabei de ser preso por consumir maconha e minha mulher está grávida’. Depois de uma longa pausa ela disse: ‘Sue está grávida?’. Ela demorou alguns dias para perguntar sobre os filmes e sobre maconha. Meses depois ela estava se vangloriando sobre os meus feitos no clube em Connecticut (EUA). Um ano depois, ela me ajudou a conseguir crédito para abrir a minha produtora de vídeos pornô amadores.” (O Globo)

Blog: O Povo com a Notícia