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quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Ascensão de Marina é o pesadelo do agronegócio


Se nenhuma outra reviravolta desancar o mundo da política nas próximas horas, a ex-senadora Marina Silva deve ser oficializada candidata à Presidência da República pelo PSB, substituindo Eduardo Campos, morto há uma semana num acidente aéreo em Santos. A chegada de Marina transforma o cenário eleitoral. E, diante das intenções de voto que suscitou na população já na primeira pesquisa Datafolha estampando seu nome, torna-se imprescindível recapitular como a virtual candidata enxerga determinados setores da economia, em especial o agronegócio, seu maior alvo no período em que ocupou cargos proeminentes da República. A ex-senadora foi combatente voraz da bancada ruralista do Congresso e votou contra o novo Código Florestal, considerado por muitos um avanço na legislação ambiental brasileira. Ainda que a breve campanha de Campos tenha amenizado, de certa forma, o ranço do setor em relação a sua então vice, não foi suficiente para apagar as divergências ideológicas. Especialistas e políticos que apontam barreiras possivelmente intransponíveis entre a visão da ex-senadora sobre a exploração da terra pela agricultura e aquela dos donos de terras. A decisão sobre a candidatura de Marina será oficializada na reunião da Executiva Nacional da sigla, marcada para esta quarta-feira, em Brasília. Nela, também será chancelado o nome do vice, o deputado federal Beto Albuquerque (PSB-RS), o que não representa nenhum alívio nas desavenças. De acordo com aliados, o aval de Marina para a escolha de Albuquerque foi influenciado, entre outras coisas, pelo fato de o deputado ter se esforçado para costurar a aliança do partido com o candidato ao governo do Rio Grande do Sul José Ivo Sartori (PMDB), evitando uma aproximação com a ruralista Ana Amélia (PP). Diante da impossibilidade de diálogo entre “marineiros” e empresários do setor agrícola, caberá a Albuquerque, já desgastado pelo episódio político, fazer as vezes de conciliador. 

O socialista tem bom trânsito entre empresas de celulose e produtores de cereais gaúchos, que são, inclusive, importantes doadores de sua campanha, mas guarda distância dos grandes produtores de soja do Mato Grosso e do Norte do país, os mais influentes em Brasília. Para quebrar a resistência, Marina e seus seguidores precisariam reavaliar muitas de suas convicções sobre o agronegócio e o novo Código, afirma Ricardo Tomczyk, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja). Segundo um levantamento feito pelo Centro de Liderança Pública (CLP), em parceria com a Economist Intelligence Unit (EIU), consultoria ligada à revista The Economist, entre 2012 e 2013, uma das poucas melhoras no ambiente de negócios no Brasil foi justamente a melhora na regulamentação ambiental proporcionada pela nova legislação. Contudo, o próprio Tomczyk reconhece que as chances de mudança são rêmoras. “Não acredito que haverá um apoio formal do setor a Marina, pelo menos em um primeiro momento, dado o histórico traumático que tivemos durante sua gestão como ministra do Meio Ambiente, de 2003 a 2008”, afirmou. Segundo ele, a resignação da ex-senadora em relação à entrada em vigor do Código é primordial para que o setor continue funcionando de forma estável. “Caso isso não aconteça, o relacionamento ficará insuportável”, disse. Em sabatina na sede da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), no início de agosto, Eduardo Campos defendeu sua vice e buscou aproximar a relação entre produção agrícola e sustentabilidade. “É uma agenda que parece que quem está no campo está derrubando a Mata Atlântica, defendendo o trabalho escravo e sendo contra a reforma agrária. Esse ambiente não é de futuro", afirmou o socialista. Em 2010, quando candidata pelo Partido Verde (PV), Marina nem chegou a comparecer ao evento. “O problema é que bandeiras históricas que nós defendemos não são as mesmas bandeiras dela”, afirmou o deputado federal Luiz Carlos Heinze (PP-RS), presidente da frente parlamentar da agropecuária no Congresso. (Revista Veja)

Blog: O Povo com a Notícia