O PT e Dilma tornaram-se sócios
de um empreendimento crivado de ironias. Por um desses caprichos do destino, o
partido exibe um programa de dez minutos em rede nacional nesta terça-feira,
mesmo dia em que a Câmara começa a votar o ajuste fiscal do governo. Em vez de
apoiar enfaticamente a iniciativa, a legenda sobe no telhado. Enquanto o
Planalto mobiliza sua infataria para restringir a concessão de benefícios
trabalhistas e previdenciários, o PT se dirige ao planeta Marte, pregando um
ajuste que proteja os mais pobres e preserve os direitos dos trabalhadores.
Dilma,
por sua vez, preferiu não participar da propaganda petista. É a primeira vez
que ela se ausenta de um programa do gênero desde que virou presidente. Achou
melhor não roçar sua já arranhada imagem nas manchas de óleo queimado que sujam
a logomarca do PT. É como se o petismo e a presidente se olhassem no espelho e
tivessem sobressaltos. Ambos perguntam a si mesmos: o que você está fazendo aí?
Ou: por que você anda em tão má companhia?
Os
petistas não estavam preparados para Dilma 2, a caída em si. No propinoduto da
Petrobras, os companheiros atingiram o ápice do cinismo capitalista. Mas no
ajuste fiscal comportam-se como ingênuos socialistas distraídos sendo usados
por um governo terceirizado ao Bradesco. Pela corrupção, abandonaram seus
ideais. Por Joaquim Levy, teriam de aderir ao inimigo.
Dilma
encontrou a solução na semântica. Chama a rendição de amadurecimento. O PT,
porém, ainda se preocupa com o que a posteridade falará dele quando puder se
manifestar. A posteridade pode mesmo ser traiçoeira. Mas sem algum tipo de
ajuste, o flagrante do PT que ficará fixado para a posteridade já está
escolhido. No futuro, quando for necessário identificar a legenda para os mais
jovens — Bolsa Família?, Fome Zero?, Pornatec? — bastará lembrar a conjunção da
falta de ética com a ruína econômica e o problema estará resolvido. “Ah, aquele
era o PT?” (Por Josias de Souza)
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