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quinta-feira, 4 de junho de 2015

Viagem de Cunha e Cia. a Israel é o desnecessário levado longe demais


À frente de uma comitiva de 13 deputados, Eduardo Cunha faz uma “visita oficial” a Israel. Ganha uma viagem a Jerusalém, com direito a assento na primeira classe e a hospedagem no Waldorf Astoria, quem for capaz de apontar um único benefício que esse deslocamento propiciará ao Brasil.

“Tinha mais gente que queria vir, pagando, e eu segurei porque dificilmente conseguiria explicar”, disse o morubixaba da Câmara. “Para ser menos criticado, eu segurei. Senão tinha vindo o dobro de pessoas, tamanha a disputa e a relevância desta viagem. O Brasil não pode se fechar dentro de sua política externa apenas em parceiros da América do Sul de coincidência ideológica.''

A Câmara pendurou no seu portal na internet um texto sobre a missão dos viajantes. No primeiro parágrafo, lê-se que Eduardo Cunha “ouviu de diversas autoridades israelenses o pedido de apoio do Brasil para manter Israel entre os associados da Fifa.”

Quer dizer: se a frustrada tentativa da Autoridade Palestina de excluir o futebol israelense da Fifa foi o grande assunto das conversas mantidas com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e com o presidente do Congresso israelense, Yuli-Yoel Edelstein, a “relevância” da viagem não há de ter sido a causa da “disputa” que os deputados travaram para cavar vagas na delegação. Cunha já demonstrou que pode muito. Mas seus poderes ainda não abrangem a Fifa. Ali, quem dá as cartas no momento é o FBI.

A maioria dos parlamentares levou suas mulheres a tiracolo. A comitiva foi caroneada, de resto, por personagens como o pastor Evaraldo, ex-presidenciável do PSC. “Quem trouxe a esposa, como eu, está pagando por sua conta”, disse Eduardo Cunha. “Teve gente que veio totalmente por conta própria, que sequer foi pago pela Câmara.''

Acomodado no Waldorf Astoria, a mais moderna e luxuosa hospedaria de Jerusalém, o grupo do evangélico Cunha percorrerá na sexta e no sábado um circuito tradicional do turismo cristão: Mar da Galileia, Nazaré, Jerusalém e Belém. Na sequência, o grupo embarca para Moscou.

Na capital russa, realiza-se na segunda-feira uma reunião de parlamentares dos BRICs —o bloco emergente que inclui, além do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Era esse, na origem, o compromisso que motivara a viagem. A escala no Oriente Médio foi uma espécie de desnecessário levado longe demais.

Renan Calheiros, o cacique do Senado, também voará para a Rússia. Levará consigo outros quatro senadores. Antes de aterrissar na reunião com os colegas dos BRICs, Renan passará o final de semana com sua mulher em Paris, que ninguém é de ferro. Ele manda dizer que esse pedaço da viagem será custeado com verbas próprias.

A Câmara e o Senado ainda não se dignaram a informar quanto você, caro leitor, já pagou e ainda pagará por esse feriadão internacional dos parlamentares. Antes de embarcar, Cunha e Renan divulgaram um projeto de Lei de Responsabilidade das Estatais. Ao enumerar os objetivos da proposta, Renan disse: “esse projeto é apenas para ordenar, dar racionalidade, dar transparência, abrir a caixa preta e fortalecer o papel do Congresso Nacional na fiscalização [das estatais].”

Os investigados Renan e Cunha renderiam homenagens à lógica se oferecessem à plateia um mínimo de transparência, abrindo a caixa preta das viagens. Num instante em que o ministro Joaquim Levy (Fazenda) passa na lâmina até o orçamento do seguro-desemprego e da pensão por morte, seria muito bom se o Legislativo parasse de torrar verba pública como se fosse dinheiro grátis. (Por Josias de Souza)

Blog: O Povo com a Notícia