À
frente de uma comitiva de 13 deputados, Eduardo Cunha faz uma “visita oficial” a Israel. Ganha uma viagem a Jerusalém, com direito a
assento na primeira classe e a hospedagem no Waldorf Astoria, quem for capaz de
apontar um único benefício que esse deslocamento propiciará ao Brasil.
“Tinha mais gente que queria vir, pagando, e eu segurei
porque dificilmente conseguiria explicar”, disse o morubixaba da Câmara. “Para
ser menos criticado, eu segurei. Senão tinha vindo o dobro de pessoas, tamanha
a disputa e a relevância desta viagem. O Brasil não pode se fechar dentro de
sua política externa apenas em parceiros da América do Sul de coincidência
ideológica.''
A Câmara pendurou no seu portal na internet um texto sobre a missão
dos viajantes. No primeiro parágrafo, lê-se que Eduardo Cunha “ouviu de
diversas autoridades israelenses o pedido de apoio do Brasil para manter Israel
entre os associados da Fifa.”
Quer dizer: se a frustrada tentativa da Autoridade
Palestina de excluir o futebol israelense da Fifa foi o grande assunto das
conversas mantidas com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e com o
presidente do Congresso israelense, Yuli-Yoel Edelstein, a “relevância” da
viagem não há de ter sido a causa da “disputa” que os deputados travaram para
cavar vagas na delegação. Cunha já demonstrou que pode muito. Mas seus poderes
ainda não abrangem a Fifa. Ali, quem dá as cartas no momento é o FBI.
A maioria dos parlamentares levou suas mulheres a
tiracolo. A comitiva foi caroneada, de resto, por personagens como o pastor Evaraldo,
ex-presidenciável do PSC. “Quem trouxe a esposa, como eu, está pagando por sua
conta”, disse Eduardo Cunha. “Teve gente que veio totalmente por conta própria,
que sequer foi pago pela Câmara.''
Acomodado no Waldorf Astoria, a mais moderna e luxuosa
hospedaria de Jerusalém, o grupo do evangélico Cunha percorrerá na sexta e no
sábado um circuito tradicional do turismo cristão: Mar da Galileia, Nazaré,
Jerusalém e Belém. Na sequência, o grupo embarca para Moscou.
Na capital russa, realiza-se na segunda-feira uma reunião
de parlamentares dos BRICs —o bloco emergente que inclui, além do Brasil,
Rússia, Índia, China e África do Sul). Era esse, na origem, o compromisso que
motivara a viagem. A escala no Oriente Médio foi uma espécie de desnecessário
levado longe demais.
Renan Calheiros, o cacique do Senado, também voará para a
Rússia. Levará consigo outros quatro senadores. Antes de aterrissar na reunião
com os colegas dos BRICs, Renan passará o final de semana com sua mulher em
Paris, que ninguém é de ferro. Ele manda dizer que esse pedaço da viagem será
custeado com verbas próprias.
A Câmara e o Senado ainda não se dignaram a informar
quanto você, caro leitor, já pagou e ainda pagará por esse feriadão internacional
dos parlamentares. Antes de embarcar, Cunha e Renan divulgaram um projeto de
Lei de Responsabilidade das Estatais. Ao enumerar os objetivos da proposta,
Renan disse: “esse projeto é apenas para ordenar, dar racionalidade, dar
transparência, abrir a caixa preta e fortalecer o papel do Congresso Nacional
na fiscalização [das estatais].”
Os investigados Renan e Cunha renderiam homenagens à
lógica se oferecessem à plateia um mínimo de transparência, abrindo a caixa
preta das viagens. Num instante em que o ministro Joaquim Levy (Fazenda) passa
na lâmina até o orçamento do seguro-desemprego e da pensão por morte, seria
muito bom se o Legislativo parasse de torrar verba pública como se fosse
dinheiro grátis. (Por Josias de Souza)
Blog: O Povo com a Notícia