Decorridos
sete meses e seis dias do seu segundo mandato, Dilma Rousseff viveu na Câmara
uma noite de Juízo Final. As cenas foram registradas nos anais do Legislativo
pela taquigrafia. Mas a História da sessão não é uma estenógrafa ascética. É
uma senhora gorda, que encontra a exatidão no exagero. Ela fascinará os
brasileiros do futuro com sua descrição. Exagerará nos destalhes. Contará que
um líder da oposição, Mendonça Filho (DEM-PE), subiu à tribuna para tentar
evitar a explosão de uma bomba fiscal dentro das arcas do Tesouro Nacional.
Mas, vindos do horizonte, quatro cavaleiros cavalgaram sobre o plenário.
Chamavam-se Irresponsabilidade, Indiferença, Descaso e Populismo. E tudo
escureceu. José Guimarães (PT-CE), líder do governo, viu dois partidos governistas
— PDT e PTB — vindo na sua direção. Cansados da pecha de traidores, bradavam: “Não
somos mais governistas, agora somos independentes.” Os outros aliados do PT
gritaram em uníssono: “Eu levanto”. E os petistas, vendo-se cercados: “Deixa
que eu corto”. As lentes da TV Câmara fecharam em Eduardo Cunha. E o Senhor das
Trevas sorriu gostosamente no instante em que Sibá Machado, líder do PT,
declarou ao microfone que até o partido da presidente da República votaria a
favor da proposta que vincula o salário de três corporações — advogados da
União, delegados da Polícia Federal e delegados de Polícia Civil — a 90,25% dos
contracheques dos ministros do STF. E foi o fim de tudo. Para Dilma Rousseff, o
Apocalipse foi a humilhação de ouvir Eduardo Cunha anunciando que a “bomba
fiscal” foi aprovada por 95,3% dos presentes. O descalabro prevaleceu com o
acachapante placar de 445 votos a favor e apenas 16 contra. Registraram-se seis
abstenções. A íntegra da lista de votações, disponível aqui, revela
que, na noite do Juízo Final, Dilma foi tratada na Câmara como cachorro
chutado. Antes do Apocalipse, seu governo era o inferno do nada. Agora, é um
nada um pouco mais profundo. (Via: Josias de Souza)
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