De tanto apanhar na Câmara, o
governo mudou seu procedimento na votação do projeto que iguala a correção do
FGTS à rentabilidade da caderneta de poupança. Para evitar um novo
espancamento, o Planalto aceitou ceder um olho roxo.
Em
jantar servido a deputados aliados no Palácio da Alvorada na noite de
segunda-feira, Dilma Rousseff encomendara o enterro da proposta. Ao perceber que
faltavam-lhe votos, o governo foi à mesa de negociação.
O
projeto previa que os depósitos do FGTS passariam a ser corrigidos como a
poupança a partir de janeiro de 2016. Orientado pelo Planalto, o petista José
Guimarães, líder do governo, sugeriu ao relator da proposta, o oposicionista
Rodrigo Maia, do DEM, um escalonamento em 11 anos. Nada feito.
Autorizado
pela equipe econômica do governo, Guimarães reduziu sua pretensão de
escalonamento para oito anos. Sabendo que dispunha de infantaria, o relator
topou apenas quatro anos. A negociação ocorria longe do plenário.
Simultaneamente,
a bancada governista — ou o que restou dela — empurrava a sessão com a barriga à
espera do fechamento de um acordo. No início da noite, Mendonça Filho, líder do
DEM e co-autor do projeto, sugeriu ao presidente Eduardo Cunha a concessão de
apenas mais dez minutos de prazo.
Abespinhado,
um dos vice-líderes do governo, Silvio Costa, do PTB, foi ao microfone: “Quero
dizer ao deputado Mendonça Filho que quem dá prazo é oficial de Justiça. E o
DEM, pelo que me consta, não é oficial de Justiça. Nós estamos buscando um entendimento.
Agora, entendimento na base da pressão não vai acontecer. Se for na base da
pressão, a gente vai para o voto.”
Mendonça
não se deu por achado: “O deputado Silvio Costa quer falar grosso, mas eu acho
que o governo não está com essa base tão firme assim para ele falar grosso
dessa maneira. Peço ao deputado Silvio Costa, que está muito bravo, que baixe o
tom, porque o governo tem que falar fino. O governo está em minoria aqui na
Casa.”
Silvio
Costa, que participara na véspera do jantar do Alvorada, apenas ecoava em
plenário o tom de Dilma. No entanto, o líder Guimarães, que também jantara com
a presidente, se deu conta do seguinte: se confiasse piamente na fidelidade da
coligação governista, não poderia piar depois. Preferiu falar fino.
Guimarães
engoliu os quatro anos de parcelamento da nova fórmula de correção do FGTS.
Recomendou aos supostos liderados que votassem a favor do texto do relator. A
aprovação se deu em votação simbólica.
O
projeto seguiu para o Senado. Se não for modificado, irá à mesa de Dilma. Que
pode sancioná-lo ou vetá-lo. Guimarães não quis se comprometer com a sanção.
Disse que a área econômica do governo terá de fazer as contas.
No
início do mês, o governo sofrera uma derrota humilhante na Câmara. Dilma
assistira à aprovação, em primeiro turno, da emenda constitucional que
vinculada os salários dos advogados da União e dos delegados a 90,25% do
contracheque de um ministro do Supremo.
O
placar correspondeu a uma surra homérica: 445 votos a 16. Foi como se o governo
saísse do plenário da Câmara com escoriações por todo o corpo, os braços e as
pernas quebradas. Perto desse resultado, o olho roxo da votação do FGTS é um
alívio. Mas está longe da tranquilidade que o governo anunciara na semana.
Ficou
entendido que o armistício firmado entre Dilma e o presidente do Senado, Renan
Calheiros, por enquanto na vale para a Câmara. (Via: Josias de Souza)
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