Ao render-se sem ressalvas à
política do vale-tudo, instalando no Planalto um mercado de compra e venda de
lealdades de última hora, Dilma Rousseff inaugurou uma nova fase do seu
governo. Convivia com três crises: a econômica, a ética e a política.
Fabricou uma quarta: a crise de compostura. Os aliados ainda não contemplados com verbas ou cargos exigem a sua parte. Na marra.
Fabricou uma quarta: a crise de compostura. Os aliados ainda não contemplados com verbas ou cargos exigem a sua parte. Na marra.
Antes,
os governistas sonegavam votos ao governo de vez em quando. Agora, não entregam
nem o quórum mínimo para o funcionamento das sessões. Pela segunda vez num
intervalo de 24 horas, os deputados da coligação oficial derrubaram com sua ausência a sessão do Congresso que
deveria analisar os vetos presidenciais às propostas que o Planalto chama de
“bombas fiscais”.
Na
véspera, o Planalto alegara que os aliados estavam em trânsito dos seus Estados
para Brasília. Hoje, com mais de 400 deputados presentes no prédio da Câmara,
ficou entendido que a ausência em plenário destina-se mesmo a chantagear a
presidente da República.
Horas
antes, Dilma fazia pose numa entrevista a rádios da Bahia. “O Congresso vai
reafirmar seu compromisso com o Brasil. É importante que as pessoas coloquem os
interesses do país acima dos interesses pessoais ou partidários.'' No
Congresso, os aliados de Dilma, que sabem o que ela fez na semana passada,
ouviram um aviso autamático que vem do fundo de suas consciências: “Farsante!”
No
primeiro mandato, período em ensaiou o papel de faxineira, Dilma comportava-se
como uma governante realista lidando com uma classe política viciada. Adotava
os seus meios para fins nobres. No processo atual, o único fim é evitar que seu
mandato chegue prematuramente ao fim. Sumiram as últimas noções de racato.
Dilma
negociou a Saúde e a Ciência e Tecnologia com o líder do PMDB, Leonardo
Picciani, um eleitor de Aécio Neves, à luz do dia, na frente das crianças.
Sentindo-se preteridos, partidos como PP, PR, PTB e assemelhados tomaram
distância do PMDB e exigem a abertura um guichê próprio. Cada deputado é líder
de si mesmo. Vem aí o festival do segundo e do terceiro escalão. Eduardo Cunha,
como um Nero brasiliense, gargalha em meio às chamas.
Se
quisesse, a oposição poderia registrar presença em plenário, dando quórum para
que o Congresso confirmasse os vetos de Dilma. Mas os antagonistas da
presidente decidiram prolongar a agonia do governo. Logo, logo haverá quórum.
Agachado, o governo barganhará o impensável com seus aliados. Já se ouve ao
fundo o tilintar de verbas e cargos. Perdeu-se a compostura. O governo está de
cócoras. (Via: Josias de Souza)
Blog: O Povo com a Notícia