O conteúdo das últimas delações
premiadas da Lava Jato — além das cenas da já conhecida promiscuidade nas altas
esferas da política entre os que lutam para se firmar no Planalto e os que
brigam para retornar — revela um cenário típico de guerra entre facções
criminosas pelo controle dos negócios do poder.
Sérgio
Machado, o delator do PMDB, disse ter repassado R$ 70 milhões roubados da Transpetro para Renan Calheiros
(R$ 30 milhões), Romero Jucá (R$ 20 milhões) e José Sarney (R$ 20 milhões) — uma
troica de cardeiais que Michel Temer afaga, para evitar que o roteiro do
impedimento de Dilma desande no Senado.
Marcelo
Odebrecht, o delator dos delatores, avisou que seu alvo mais reluzente será
Dilma. Ele conta que as arcas da reeleição de madame foram abastecidas com
dinheiro de propina.
Algo que, aliás, a forca-tarefa da Lava Jato já havia farejado ao rastrear o
envio de R$ 3 milhões da construtora Odebrecht para uma conta aberta na Suíça
por João Santana, além do repasse de R$ 22 milhões em dinheiro vivo ao marqueteiro
da reeleição.
A
batalha do impeachment se desenrola contra um fundo de progressivo descrédito
da sociedade saqueada e submetida a uma combinação de recessão, inflação e
desemprego. Há em cena dois Brasis. O país oficial faz pose de limpinho ao lado
dos seus respectivos lixões, enquanto briga pelo controle dos pontos de coleta.
O país real luta para sobreviver à escassez e ao desemprego.
Alheio
às revelações de Machado sobre os 12 anos de pilhagem na Transpetro, sob as
barbas de Lula e o nariz empinado de Dilma, Temer negocia com Renan a
manutenção da Eletrobras,
ontra boca de propinas, na cota do PMDB do Senado.
Num
instante em que Dilma reivindica o direito de continuar voando nas asas daFAB,
o delator Nestor Cerveró rouba o que lhe resta de chão sob os pés ao revelar
que ela mentiu sobre Pasadena.
Enquanto
se acusam mutuamente, os dois lados simulam interesse em interromper o fluxo de
propinas, acabar com a política de acorbertamento e do compadrio. Ou seja,
prometem acabar com seus valores mais tradicionais. (Via: Josias de Souza)
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