Três em
cada dez mulheres que moram no Nordeste sofreram ao menos um episódio de
violência doméstica ao longo vida, de acordo com dados divulgados nesta
sexta-feira, (09), pela Universidade Federal do Ceará (UFC). A pesquisa aplicou
questionários em 10 mil mulheres visando a conhecer a realidade da violência na
região, e detectou ainda que capitais como Salvador, Natal e Fortaleza
apresentaram os maiores índices de casos.
Em parceria com o Instituto
Maria da Penha, e financiado pela Secretaria de Políticas para Mulheres, do
governo federal, a pesquisa iniciada em 2015 divulgou seus primeiros resultados
nesta sexta. Os questionários mostraram que 27% das mulheres entre 15 e 49 anos
sofreram algum episódio de violência emocional - como insultos, humilhações ou
ameaças -, 17,2% sofreram fisicamente e 7,13%, sexualmente, esta considerada
“no mínimo, alarmante”. Se considerado os últimos 12 meses, as porcentagens
são, respectivamente, 11,92%, 5,38% e 2,42%.
“São dados de uma violência
escabrosa que nunca tinham vindo à tona dessa forma. Aplicamos um questionário
metodologicamente rigoroso, indo aos domicílios. Os números mostram uma
realidade chocante que, mesmo diante da gravidade, ainda não recebe a atenção
devida”, disse o coordenador da pesquisa, o professor da UFC José Raimundo
Carvalho.
O estudo detalha que “a face
mais marcante da desigualdade de gênero se reflete na experiência cotidiana da
violência interpessoal doméstica” e “quase sempre é perpetrada por cônjuge,
ex-cônjuge, companheiro, ex-companheiro ou namorado”.
A avaliação mostrou uma análise
separada por capital e apontou que Natal tem a maior recorrências de casos de
violência emocional (34,82%), enquanto Salvador está à frente na lista de relatos
de violência física (19,76%) e João Pessoa (8,8%), sexual.
Para os especialistas
envolvidos na pesquisa, o fato e ex-parceiros serem tão ou mais violentos do
que parceiros atuais “pode ser entendido ao se considerar que o fim de uma
relação, geralmente aquela encerrada pela mulher, representa um duro golpe em
termos de transgressão de normas de gênero preponderantes nas concepções sobre
relacionamento desses homens”.
Pesquisador do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e autor de estudos sobre o tema, o
economista Daniel Cerqueira se disse surpreendido pelos dados. “A pesquisa
revela aspectos importantes para se pensar políticas públicas efetivas para
mitigar esse grave problema da violência. A proporção de violência sexual nos
últimos 12 meses, por exemplo, é muito acima do que esperava, em 2,42% das
mulheres”, disse.
Para ele, os dados da região
podem ajudar a compreender a realidade nacional. “A pesquisa dá uma ideia do
que está se passando no Brasil. Números de homicídios de mulheres mostram que
não há porque imaginar que no Nordeste aconteça muito mais violência”,
acrescentou.
Infância: A pesquisa mostrou ainda a
influência que experiências na infância de violência doméstica pode ter em
casos futuros. As mulheres responderam, por exemplo, que uma em cada cinco já
havia sido exposta ou testemunhado enquanto criança as agressões sofridas pelas
mães. Os especialistas acreditam que essa exposição torna os membros da família
a se envolverem em relações violentas durante a vida adulta.
A ameaça que a
violência doméstica representa as futuras gerações pode se expressar
diretamente. O questionário mostrou que 6,2% das entrevistas disseram sofrer
agressão física durante alguma das gestações ao longo da vida, seja por parte
do parceiro atual ou do ex-parceiro. Os especialistas destacaram que “quando
esse ato violento ocorre durante a gravidez, mulheres e fetos são diretamente
atingidos, podem ocasionar sequelas”. De cada caso de feminicídio, estima-se
que a vítima deixe dois órfãos; em 34% dos casos, o número é igual ou maior a
três. (Via: Estadão)
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