Por Magno Martins
Forjada na luta pelos direitos
indígenas, professora com grau de instrução superior, mais forte e destemida
voz que ecoa no Sertão em pernambucano em defesa uma raça sofrida e abandonada,
a tribo dos Truká, na ilha de Assunção em Cabrobó, Edilene Bezerra Pajeú, ou
simplesmente Pretinha Truká, 41 anos, escreve uma nova página na história
política indígena do País. É a primeira autêntica e legítima representante da
nação Truká eleita vereadora com 780 votos pelo Partido Verde.
Corpo franzino, estatura baixa, solteira, dois filhos,
nascida e criada vendo seus pais enfrentar os poderosos na defesa de suas
terras, alvo de muitas contendas, sendo a principal delas a invasão
pela União para construção da principal tomada do projeto de Transposição
das águas do São Francisco, Pretinha Truká passa a suceder na Câmara o vereador
Neguinho Truká, que está encerrando o seu segundo mandato na Câmara de Cabrobó.
Com ela, os 4,2 mil índios da sua tribo continuarão a ter suas bandeiras representadas
no parlamento.
Ao ser convocada para disputar as eleições, que não estava em
seu projeto de vida, pautado na educação da sua tribo, Pretinha só aceitou
porque sua escolha se deu pela vontade unânime dos mais legítimos
representantes da aldeia: os caciques Bertinho e Neguinho e a cacique Ana
Cleide. “Ela foi escolhida pela sua história, seu perfil e sua liderança”,
assinala o cacique Neguinho Truká.
Depois de Cabrobó eleger o primeiro índio parlamentar em
2008, respaldado por 1.034 votos, os Trukás passaram a ter mais força para
conquistar políticas públicas em todas as áreas, principalmente na agricultura
familiar, na educação e na regularização de suas terras. “Sei que o desafio é
grande, mas já estou curtida em grandes batalhas em defesa de nossa gente”,
afirma Pretinha, referindo-se ao trabalho de Neguinho que lhe servirá de
referência.
Preparada, politizada e sem papas na língua, Pretinha já
ecoou a sua voz até na ONU – a Organização das Nações Unidas. Em 2004,
selecionada pela Comissão de Professores Indígenas de Pernambuco (Copipe),
esteve ali na condição de primeira mulher indígena do Brasil expondo a
violência sofrida por índios da sua tribo depois de um curso preparatório na
Espanha em Direitos Humanos. “Foi uma experiência fantástica e nosso caso,
um índio barbaramente assassinado em nossa aldeia, ganhou repercussão
internacional”, diz, orgulhosa.
A mais nova representante dos
Trukás no parlamento de Cabrobó tem 16 anos de batente em bancos escolares.
Professora do ensino fundamental em sua aldeia, ela coordena, hoje, seis das 12
escolas indígenas do município, que têm 121 professores e 1.010 alunos. Dos 780
votos obtidos, metade saiu da comunidade indígena. “O trabalho dela é fenomenal
e nos orgulha muito”, afirma o prefeito eleito Marcílio Cavalcanti (PMDB), que
teve expressiva votação na comunidade indígena graças ao apoio de suas
principais lideranças, entre as quais a própria Pretinha e o cacique Neguinho.
Guerreira, Pretinha mobilizou, recentemente, povos indígenas
de 11 das 12 etnias que existem no Estado para acampar na Secretaria Estadual
de Educação. Segundo Pretinha ela, ali estavam cerca de 900 índios. A pauta de
reivindicações foi extensa, mas o foco principal estava nas questões
educacionais, como a criação do cargo de professor indígena, concurso público e
melhoria na estrutura física das escolas indígenas. Pernambuco tem cerca de 10
mil alunos nas 12 aldeias, com aproximadamente mil docentes. “O governador
assumiu o compromisso de nos receber assim que assumiu o Estado. Já está na
metade do segundo ano de gestão e nunca abriu as portas para sentarmos com ele
e conversarmos”, desabafou Pretinha, que levou barracas, comida e material de
cozinha.
A representação indígena nas câmaras municipais no Nordeste
não se restringe a Pernambuco. No Ceará, o advogado Weibe Tapeba (PT) foi
eleito vereador em Caucaia. É o único do PT no município. Em Monsenhor Tabosa,
Vicentinho Potyguara (PCdoB) foi não somente reeleito, mas o mais votado, ao
lado do tucano Kaio Souto, neto do ex-prefeito e pecuarista José Souto. Os
Potiguara estão presentes também na Paraíba e constituem a etnia mais numerosa
do Nordeste.
Os Tapeba estão restritos ao Ceará, na região de Fortaleza.
No século 19, o Estado chegou a declarar que não tinha mais indígenas. Em Pesqueira,
o presidente da Câmara – Sil Xukuru (PTB) – foi o vereador mais votado. Os
Xukuru vivem na cidade e na Serra de Ororubá. Em Fernando Falcão (MA), vários
candidatos Canela tentaram a Câmara. Mas somente Raul Canela (PSDB) conseguiu.
Três Pankararu tentaram em Tacaratu (PE). Quem chegou lá foi Celo Pankararu
(PV).
Gerson Pataxó (PT) foi o segundo mais votado em Pau Brasil,
na Bahia. O PT também elegeu Cacique Flavio, do povo Kaimbém, em Euclides da
Cunha. Cacique Aruã (PCdoB) passou raspando em Santa Cruz Cabrália, mas não
entrou – embora tenha tido mais votos que três entre os eleitos. Porto Seguro
elegeu o Cacique Renivaldo, mais um da etnia Pataxó. É um dos poucos que não
aparecem na lista de candidatos indígenas.
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