Ex-presidente e herdeiro do grupo Odebrecht, Marcelo Odebrecht confirmou
à Lava Jato a versão do ex-executivo da empreiteira Cláudio Melo Filho sobre
pagamento de R$ 10 milhões ao PMDB feito a pedido do presidente Michel Temer.
Segundo a Folha apurou, Marcelo, que fechou acordo de delação premiada,
depôs por pouco mais de três horas na segunda (12) em Curitiba. De acordo com
procuradores, as oitivas seguiram terça (13) e devem durar ao menos três dias.
Marcelo respaldou o episódio do jantar no Palácio do Jaburu, em maio de
2014, com a presença de Temer, então vice-presidente, e do hoje ministro da
Casa Civil, Eliseu Padilha, no qual, segundo os delatores, foi acertado o
pagamento de R$ 10 milhões para a campanha peemedebista.
Marcelo não deu detalhes sobre a operacionalização do dinheiro que, de
acordo com Melo Filho, foi feita por Padilha. Segundo o ex-executivo, o hoje
ministro do governo pediu que parte dos recursos fosse entregue no escritório
de José Yunes, assessor e amigo de Temer, em São Paulo.
Temer, Padilha e Yunes negam ter praticado qualquer tipo de
irregularidade e a empreiteira não se manifesta sobre o teor dos acordos.
O patriarca da empresa, Emílio Odebrecht, também iniciou seu depoimento
no acordo de colaboração. Ele foi à sede da Procuradoria-Geral da República em
Brasília nesta terça-feira (13).
Assim como Marcelo, Emílio deve detalhar a relação da empreiteira com os
ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, do PT.
Como revelou a Folha, Emílio vai esmiuçar a construção da Arena
Corinthians, que, segundo ele, foi uma espécie de presente a Lula, torcedor do
time paulista.
Marcelo deve contar como pediu à ex-presidente Dilma que intercedesse
para que a Caixa Econômica ajudasse no financiamento da obra –os dois teriam
discutido o assunto numa visita ao estádio.
Os relatos apresentados aos procuradores informam que Marcelo era o
responsável por tratar dos assuntos da empreiteira com a alta cúpula do
Executivo, ou seja, a Presidência da República.
Já Cláudio Melo Filho, ex-vice-presidente de Relações Institucionais da
Odebrecht, fazia a ponte com o Legislativo. Melo, aliás, presta depoimento
também desde segunda aos procuradores em Brasília.
Pessoas com acesso às investigações afirmam que o depoimento de Marcelo
mira principalmente os ex-presidentes petistas e funciona como um
"guarda-chuva" na confirmação de versões dos demais executivos.
Ele corrobora ainda a versão do pagamento de sete mesadas no valor de R$
50 mil a Anderson Dornelles, um dos principais assessores de Dilma, também
relatada por Melo Filho. O ex-auxiliar nega.
Após a conclusão dos depoimentos, o ministro Teori Zavascki, do STF
(Supremo Tribunal Federal), decide por homologar ou não os acordos.
FORMALIDADE
Preso em Curitiba desde 19 de junho de 2015, Marcelo substituiu o usual
traje esportivo que usa na cela por blazer ao prestar depoimento. Sua pena será
de dez anos, sendo mais um em regime fechado.
Como as oitivas são gravadas em vídeo, o ex-executivo relatou a pessoas
próximas que queria reaparecer de maneira mais sóbria.
Segundo relatos de quem tem contato com o herdeiro da Odebrecht na
carceragem, após a assinatura do acordo de colaboração, Marcelo preferiu
discrição e se limitou a dizer que estava "tudo fechado" com os
procuradores.
No fim de semana, mostrou irritação aos colegas de carceragem ao saber
do vazamento do conteúdo da delação de Melo, dizendo que não sabia de todo o
escopo das declarações do ex-vice-presidente. (Via: Folhapress)
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