Roupas
leves, sombrinhas para fugir do sol e abanadores. Quem circula pelo Grande
Recife sabe que as temperaturas aumentaram. Mesmo acostumados ao verão
escaldante, o recifense percebe a mudança nos termômetros. Esse calorão fez o
Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) projetar um aumento de 9,4% no
consumo de energia no Nordeste em janeiro, na comparação com igual mês de 2016.
Para suportar a demanda será necessário recorrer à geração eólica. Não fosse a
boa safra de ventos, seríamos submetidos a um racionamento ou sentiríamos nas
contas de luz o preço da geração térmica.
"O crescimento da
capacidade instalada de energia eólica, a partir de 2013, coincidiu com a
persistência da seca no Nordeste e a redução do nível de água da Barragem de
Sobradinho, a principal da região. O próprio governo tem dito que a fonte
eólica está salvando a região em termos de produção de energia. A eólica chega
a atender, na média, 30% da necessidade de energia do Nordeste e em alguns
momentos chega a 50%", calcula a presidente executiva da Associação
Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Elbia Gannoum. A boa safra de ventos
ocorre entre junho e janeiro, exatamente o período de poucas chuvas para
abastecer os reservatórios das hidrelétricas.
Atualmente são 424 parques
eólicos em funcionamento no Brasil, com uma potência instalada de 10,6
gigawatts (GW). Isso equivale a uma usina de Belo Monte (PA). Do total de
parques, 339 (80%) estão distribuídos no Nordeste. Pernambuco ocupa o sexto
lugar no ranking nacional com 29 complexos em operação e outros oito em
construção. A geração eólica já representa 7% da geração total de energia no
Brasil e em 2035 a projeção é que participe com algo entre 20% e 25%.
"Graças a característica
dos ventos (fortes, cortantes e sem rajadas), o Brasil tem uma produtividade
eólica que equivale a quase o dobro da mundial. Isso faz com que os preços
também sejam competitivos. Hoje o valor do MWh está em R$ 200, abaixo da
hidrelétrica em cerca de R$ 20 e das demais fontes em R$ 50", compara
Elbia.
Embora o jovem setor venha se
destacando na matriz, a crise econômica está impondo desafios iguais aos de
outras atividades. Desde 2009, o ano passado foi a primeira vez que o governo
federal não realizou leilões para contratar energia eólica e solar. A
explicação do Ministério de Minas e Energia (MME) é de que o setor elétrico
apostava num cenário baseado em anos anteriores, em que a economia cresceria a
uma média anual de 4,5%. Mas o PIB ficou estável em 2014 e caiu nos dois anos
seguintes, mergulhando numa recessão.
Na última terça-feira, os
governadores de Pernambuco (Paulo Câmara), do Ceará (Camilo Santana) e do Piauí
(Wellington Dias) se reuniram com o ministro Fernando Coelho Filho e pediram a
retomada dos leilões. Ouviram como resposta que o MME está revisando o modelo
dos certames de renováveis e que a previsão é anunciar datas em março.
"Uma indústria nova precisa de sinais de investimento, de que haverá
contratação a cada ano para que a máquina da indústria gire. Fomos competentes
em desenvolver uma indústria num curto espaço de tempo, mas precisamos que ela
continue. Os investimentos já chegam a R$ 60 bilhões, sendo R$ 20 bilhões só no
ano passado. Isso sem falar na instalação de empresas nos Estados produtores,
que já fazem com que o índice de nacionalização do setor seja de 80%",
destaca Elbia.
Doutor em eficiência energética
e professor da DeVry|FBV, Methodio Varejão diz que o sistema incerto de chuvas
no Nordeste aponta para um caminho sem volta na geração de energia renovável,
sobretudo eólica e solar. "Pernambuco foi um dos primeiros Estados a
realizar leilões de solar e já tem 218 microconsumidores com geração própria.
Esse é o futuro". (Via: JC)
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