A região
não virou mar. À seca ainda castiga o bicho homem e demais seres vivos no
semiárido, emoldurados na paisagem esturricada pela estiagem que dura seis
anos. A dura convivência da sede com a secura, da coragem com a inclemência do
clima marca uma história em que a desesperança é amenizada pela resiliência,
essa resistência adaptativa que faz a força do sertanejo ante a realidade.
A região não virou mar, mas o
rio chegou ao Sertão. A Transposição do São Francisco, ideia antiga, sempre
postergada e atrasada, começa a mudar a vida da população. Ao longo de 217 km,
um novo e precioso fio de água pode ser visto do alto, atravessando municípios
de Pernambuco e Paraíba. O canal que leva a redenção do São Francisco virou
atração e motivo de satisfação. "Olha aí, a água do Chico chegou. Depois
de séculos, mas chegou", disse o jovem Rafael, ao tirar uma foto ao lado
do canal em Monteiro (PB), resumindo o sentimento dominante. A incredulidade
cedeu espaço à euforia que deixa as pessoas em transe diante da água a perder
de vista, no canal ou represas que se transformam em gigantescas piscinas. Muitos se jogam para nadar, numa atitude perigosa: dois homens morreram
afogados em Floresta, depois de algumas braçadas na emoção.
A inauguração do Eixo Leste, em
Monteiro, na sexta, foi um momento de incontida e justificada alegria, não
apenas para o povo diretamente beneficiado, mas para todos os nordestinos. A
entrega parcial da obra mostra que é possível mudar uma realidade secular. A
inundação rápida de um leito de rio seco, através do jorro de esperança
transparente, foi um momento há muito esperado. O acionamento das comportas, em
Sertânia, repleto de autoridades, juntou o protocolo político à consumação do
sonho de gerações.
As águas do Velho Chico
precisam de mais obras para se espalhar no Agreste e no Sertão em Pernambuco.
Sem a Adutora e o Ramal do Agreste, a Adutora do Moxotó, a Barragem de Serro
Azul e outras obras hídricas, que podem levar anos para serem concluídas, o
alcance da no Estado será aquém do potencial atingido na Paraíba, por exemplo.
O déficit hídrico irá perdurar enquanto os investimentos necessários não forem
feitos, seja pelo governo estadual ou pela União. Este é um assunto, que está
no Editorial do JC desta segunda-feira (13), e que rende disputas infundadas.
"Estamos aqui pagando uma dívida", afirmou, o presidente Michel
Temer. Dívida que não foi saldada nem por ele nem pelo governo Lula, que
iniciou a obra sem terminá-la. A disputa pela paternidade da obra pública já é
fora de propósito ao macular a finalidade republicana do bem coletivo com a
exploração populista de supostos méritos para exaltação individual.
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