Os vaqueiros são figuras
tradicionais do sertão nordestino, responsáveis por cuidar de um rebanho de
gado na seca da caatinga, muitas vezes arriscando a própria vida. No São João
de Petrolina, uma grande celebração religiosa e profana reúne mais de mil
vaqueiros, de várias idades, de Pernambuco e da Bahia. A festa profana é o
Forró da Espora, realizado na noite de São João (sábado - 24/06) e que termina
com a 76ª Missa do Vaqueiro, no domingo (25/06). Este ano, a novidade é que o
Forró da Espora volta a acontecer no estádio Paulo de Souza Coelho como
originalmente, em vez do Pátio Ana das Carrancas.
“O estádio foi onde a festa começou há cerca de 20 anos, os
vaqueiros gostam, por ser mais central. A gente criou o Forró da Espora para
proporcionar algo para o vaqueiro antes da tradicional missa”, explica
Domingos Sávio Brandão, radialista e um dos organizadores da celebração.
A secretária de Cultura, Turismo e Esportes de Petrolina, Maria Elena de
Alencar, também reforça a importância da festa. “O vaqueiro representa um
legado cultural com suas manifestações no vestuário e na religiosidade. Este
ano, resgatamos a festa para o estádio e assim vamos garantir que os vaqueiros
presentes possam se divertir num ambiente onde eles poderão também abrigar seus
animais da melhor forma”, disse a gestora.
O profano é levado a sério no Forró da Espora, que deve ir até as 3h
da madrugada, ao som do legítimo pé-de-serra com apresentações dos trios Visão
Musical, Novo Esquema e Sérgio do Forró. “O local é dividido em três salões:
‘Quem me quer’ para solteiros; ‘Já tem dono para casados’ e ‘Rabo da gata’, que
é o geral, é a sobra”, explica Sivuca, acrescentando que a organização dos
espaços foi uma estratégia para evitar brigas entre homens, que se ‘engraçavam’
com mulheres comprometidas.
Após a festa, os vaqueiros dormem no estádio e arredores para na
manhã do dia seguinte, após café da manhã, por volta das 9h, seguirem em
procissão montados nos cavalos até as margens do Rio São Francisco, na orla de
Petrolina, onde é celebrada missa pelo Padre José Guimarães, também
vaqueiro. A celebração faz uma homenagem póstuma à todos vaqueiros que já
partiram.
A homilia conta com os aboiadores Josélio e Edivaldo, Coral Aboio Serrita
e Zezinho do Violão. No momento do ofertório, é feita a benção dos arreios
(instrumentos) dos vaqueiros: gibão, chocalho, guarda peito, perneira, chapéu,
peitoral, luvas, botas, búzio (feito do chifre do boi), corda de laçar e
cavalo. Ao final, por volta do meio-dia, é servido almoço para os vaqueiros que
voltam a festejar com show da dupla Sirano e Sirino.
De acordo com o radialista Sivuca, a Missa realiza em Petrolina
é a mais antiga das celebrações entre os vaqueiros e originou outras como a
realizada em Serrita. “Chico Barbeiro, pai do monsenhor João Câncio,
criou a missa de Petrolina por conta de um vaqueiro que tinha se
acidentado, o Caboco Timóteo”, conta. Já a missa realizada em Serrita foi
idealizada pelo Rei do Baião, Luiz Gonzaga, e rezada pelo padre João Câncio dos
Santos em 1971, em homenagem ao vaqueiro assassinado Raimundo Jacó.
Na Missa do Vaqueiro em Petrolina, também é feita a entrega de medalha de
Honra ao Mérito Carlos Augusto aos vaqueiros mais antigos em atividade. Este
ano, recebem a premiação: José Coelho de Amorim (Cazuza), José Joaquim do Bom
Jardim, Ivanildo Soares Amorim, Pedro Juvenal e Raimundo Conceição Ribeiro de
Souza. A premiação foi criada no ano passado pela secretaria de Cultura Maria
Elena de Alencar, quando exercia a legislatura municipal.
Sivuca estima que cerca de 1.100 vaqueiros, entre crianças, jovens e idosos,
devem participar da cavalgada e missa. São vaqueiros urbanos e de áreas rurais
de Petrolina e de outras cidades como Afrânio, Casa Nova, Lagoa Grande e
Dormentes. Um boi domesticado também participa do desfile e um caminhão leva os
vaqueiros mais velhos que não podem mais cavalgar, são os chamados “Generais do
Gibão”. Duas Frevucas garantem o som no trajeto. O radialista Sivuca foi o
criador da Frevuca, um automóvel adaptado para fazer a sonorização do desfile
dos vaqueiros, que teve como inspiração a Frevioca, existente no Carnaval do
Recife.
Sivuca foi parceiro por muitos anos de Carlos Augusto, organizador da
missa e da festa, falecido há dois anos. “Depois da morte dele, dei
continuidade para não deixar essa tradição morrer. A Missa do Vaqueiro está na
76ª edição, existe há cerca de 30 anos, sem interrupção. É a tradição mais
rica, mais antiga que temos aqui, une o interior e a cidade na paisagem do rio.
É muito importante valorizar o vaqueiro, que está quase em extinção e sobrevive
à seca”, destaca.
SERVIÇO
Forró da Espora
Sábado, dia 24/06, a partir das 21h até 3h
Estádio Paulo de Souza Coelho
Atrações: Visão Musical, Novo Esquema e Sérgio do Forró
Cavalgada saindo do estádio Paulo Souza Coelho, às 9h.
Entrada gratuita
76º Missa do Vaqueiro
Domingo, 25/06, às 10h, na Orla de Petrolina
Chegada às 10h na orla e início da missa
Às 12h, é servido almoço para os vaqueiros e em seguida tem show da dupla
Sirano e Sirino. Acesso
livre
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