A um ano das eleições, os
políticos continuam no patamar mais alto de desconfiança entre os brasileiros,
segundo levantamento mais recente do Ipsos. De acordo com o estudo, 93% não
confiam nos políticos em geral e 90% não confiam no presidente da República,
Michel Temer (PMDB). Ao mesmo tempo, as instituições mais confiáveis para os
entrevistados são as Forças Armadas (66%) e a Polícia Federal (64%).
Os dados foram divulgados ontem no lançamento de uma publicação do Ipsos
intitulada Brasil 2018: Caiu a Máscara. Para o levantamento, foram
entrevistados 1,2 mil pessoas, em 72 municípios, entre os dias 1º e 14 de julho
deste ano. A margem de erro da pesquisa é de 3 pontos porcentuais.
O estudo apontou que 86% dos
entrevistados disseram concordar, parcialmente ou totalmente, com a frase: “Os
partidos e políticos tradicionais não se preocupam com pessoas como eu”. “Há
uma desconfiança generalizada nas instituições em um contexto de crise
econômica e vácuo de lideranças”, explicou Danilo Cersosimo, diretor da Ipsos
Public Affairs.
Ele avaliou que a maioria dos entrevistados considera que os militares e
os policiais federais são os personagens que vão resolver os problemas sem
grandes rituais. “Em um momento de crise moral no País, são as forças armadas e
a polícia que têm esse capital de imagem do ponto de vista de serem
instituições intocáveis, mais puras”, afirmou.
Líderes da confiança dos brasileiros, as Forças Armadas e a PF, também,
representam, para os entrevistados, o “moralismo e conservadorismo”, observou o
diretor da Ipsos Public Affairs. “As pessoas as apoiam por isso, porque acham
que elas podem corrigir o sistema falido”, afirmou Cersosimo.
Entre as nove instituições avaliadas, apenas as Forças Armadas e a PF
obtiveram índices de confiança maior do que o de desconfiança. Em relação às
demais – Polícia Militar, Ministério Público, Supremo Tribunal Federal,
Justiça, Congresso, presidente da República e políticos em geral – mais de 50%
dos entrevistados disseram não confiar. “A confiança foi sendo perdida por
etapas. Primeiro, naqueles que representam, depois na Justiça. O entendimento é
de que a Justiça não é para todos, é lenta e não é para o pobre”, disse Cersosimo.
Intervenção: O diretor ressaltou, contudo, que o alto índice de confiança nas Forças
Armadas não necessariamente significa apoio a uma intervenção militar. “Não foi
essa a pergunta feita (sobre intervenção). Mas, apesar de não ter números neste
momento, acredito que é uma pequena parcela desse total”, disse.
À reportagem, o ministro da
Defesa, Raul Jungmann, avaliou que os pedidos de intervenção militar surgem a
partir da perda de credibilidade da política representativa. “A política
tradicional, representativa e democrática, está em declínio, então aumentam as
outras expectativas”, disse o ministro.
“Intervenção militar para quê? Para resolver o problema da Previdência?
Dos juros? O desemprego? E a corrupção? Ela está sendo enfrentada. Você tem
empresários na cadeia, ex-ministros, deputado, todos estão tendo de acertar
contas com a Justiça”, afirmou Jungmann.
Revolta: Os brasileiros que vão às urnas no próximo ano escolher presidente da
República, governadores de Estado, senadores e deputados federais e estaduais
estão de mau humor. Segundo a pesquisa, o eleitor vê com revolta (34%) e
preocupação (56%) o futuro do País.
A mesma pergunta foi feita em agosto do ano passado, no mês em que o
Senado confirmou o impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff (PT). À
época, os sentimentos que prevaleciam eram os mesmos, mas, enquanto a
preocupação continuou estável (à época era de 55%), a revolta aumentou 14
pontos porcentuais.
Além disso, o otimismo em relação ao futuro caiu de 14% para 6% após o
presidente Michel Temer assumir o Palácio do Planalto. Apesar de não ter sido
avaliado nesta pesquisa, em um estudo divulgado pelo Ipsos em setembro, o
peemedebista tinha 94% de rejeição.
“Se isso (o sentimento de revolta e preocupação) não arrefecer nos
próximos meses, é a tempestade perfeita para um discurso mais reacionário e
extremista”, afirmou o diretor da Ipsos Public Affairs.
Líder
forte: Outra conclusão do estudo é de que os brasileiros têm uma “carência” por
um líder forte. Entre os entrevistados na pesquisa, 90% disseram concordar,
total ou parcialmente, com a seguinte afirmação: “Para consertar o Brasil,
precisamos de um líder forte disposto a infringir as regras”. (Via: Estadão)
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