“As políticas do Facebook não
permitem perfis falsos e estamos o tempo todo aperfeiçoando nossos sistemas
para detectar e remover essas contas e todo o conteúdo relacionado a elas. Estamos eliminando contas falsas em todo o mundo e cooperando com autoridades
eleitorais sobre temas relacionados à segurança online, e esperamos tomar
medidas também no Brasil antes das eleições de 2018”, afirmou à BBC Brasil por
e-mail um porta-voz do Facebook.
Ao usar o verbo “esperar”, ainda que sem assumir um compromisso, a
declaração gera a expectativa de que contas falsas no Brasil possam ser alvo de
varredura semelhante à já executada antes das eleições na Alemanha e na França
em meio à forte polêmica sobre o uso indevido e o papel das redes sociais na
democracia.
A BBC Brasil procurou o Facebook e também o Twitter após uma investigação
exclusiva sugerir a atuação de uma empresa brasileira na contratação de
funcionários em várias partes do Brasil para controlar de 20 a 50 perfis falsos
cada um com a ajuda de plataformas externas às duas redes para programação de
postagens. Uma mistura de automação com atividade humana, o que torna a
detecção dos padrões de atividade mais difícil por computador.
“Ou vencíamos pelo volume, já que a nossa quantidade de posts era muito maior
do que o público em geral conseguia contra-argumentar, ou conseguíamos
estimular pessoas reais, militâncias, a comprarem nossa briga. Criávamos uma
noção de maioria”, diz um dos entrevistados pela reportagem.
A série de reportagens da BBC Brasil, Democracia Ciborgue, entrevistou
quatro pessoas que se dizem ex-funcionários da empresa e analisou
detalhadamente, com a ajuda de pesquisadores, a atividade de mais de 100 perfis
no Twitter e no Facebook que seguem o padrão de contas falsas. Segundo os entrevistados,
o total identificado pela BBC Brasil é apenas a ponta do iceberg. Haveria
milhares criados pela empresa e também outras concorrentes disputando este
mercado no Brasil.
As contas teriam sido usadas na estratégia de redes sociais de 13
políticos, sobretudo no pleito de 2014. Não há indícios, todavia, de que esses
políticos estivessem cientes do uso de perfis falsos. Eles negam que tenham
contratado esse tipo de serviço. Por e-mail, a o Facebook também ressaltou que
“durante as eleições de 2014 mais de 90 milhões de pessoas no Brasil usaram a
plataforma para debater temas relevantes para elas e engajar com seus
candidatos”.
Procurado novamente após a publicação da reportagem, o Facebook enviou
nova nota:
“Todos os dias, nós bloqueamos milhões de contas falsas no momento em que
elas estão sendo criadas. Nossos sistemas examinam milhares de sinais e se
concentram em detectar padrões de comportamento para melhor identificar
possíveis contas falsas. (…) Já temos cerca de 10 mil pessoas trabalhando em
áreas relacionadas à segurança e integridade da plataforma, e estamos
planejando dobrar o número de colaboradores dedicados a isso no próximo ano
para 20 mil.”
Blog: O Povo com a Notícia